domingo, 28 de agosto de 2011

O Verniz e a Madeira


Cada um de nós tem um plano de vida. Esse plano de vida abrange o que fazemos de nós em relação a tudo o que nos cerca. Podemos imaginar que a Obra a se realizar nesse plano é como uma viga de madeira.

Uma viga de madeira cujo comprimento exato não conhecemos. Sustenta o nosso plano de vida e, junto às vigas de tantas outras Vidas, ajuda a sustentar o telhado que a todos cobre e protege.

Em cada momento de nossa jornada, progredimos amparados pela viga que nos evita a precipitação em vôo livre e sem propósito.

Cuidemos bem do amparo que nos conduz.

Ao primeiro sinal de que a madeira acha-se sob risco, não deixemos que a sedução de cobrir a imperfeição com um verniz dê uma falsa solução do modo mais simples e fácil. Não... É importante que agitemos uma lixa, quanto mais grossa e dolorosa melhor, a fim de eliminar toda a poeira do dia a dia e desnudar o veio da madeira, exibindo-lhe a imperfeição para que possamos bem avaliar se de um mero risco de trata, ou de uma trinca que alerta para uma fratura anunciada.

Os meios de que o Cosmo se serve na condução do todo universal é transcendente à compreensão do ser humano. Muitas vezes basta que lixemos, ainda que sob dor e medo, para que a imperfeição seja corrigida e a madeira volte a ostentar seus veios de harmonia e segurança. Aí sim, podemos aplicar-lhe, envaidecidos, o verniz que protege e embeleza.

No entanto, caso a sujeira retirada e a camada de madeira sacrificada revelarem uma trinca, nada de vernizes! É preciso fazer tudo o que podemos para prover esse ponto da viga com redobrados cuidados. Se necessário, que a Obra aguarde a construção de todo um pilar de sustentação, até o solo, mesmo que isso exija tempo e esforço. É o preço da manutenção do todo sob a segurança sem a qual o risco de desmoronamento só aumenta com o tempo.

O verniz é saudável e protege a madeira bem cuidada e sem defeitos. Fora disso, é camada que dissimula sujeira e eventuais trincas, mantendo o risco para o futuro.

Há quem se revolte ante a necessidade de demorar-se nos cuidados inadiáveis que surgem passo a passo na condução da Obra. Há quem ouse abandonar-se ao espaço e simplesmente deixar para trás a viga de seu plano de vida... Quem assim faz, precipita-se desconhecendo o que encontrará abaixo, quando os limites naturais exigirem o pouso para o refazimento inevitável.

Já dissemos que não podemos compreender o Cosmo. De fato, a demora na correção de uma trinca é, na verdade, parte integrante da Obra a que nos vinculamos diante do Grande Arquiteto do Universo. Se não cuidarmos de manter a sustentação que nos cabe, estaremos desertando não apenas do nosso plano de vida, mas da nossa devida parcela de apoio ao todo que a todos abrange.

A Viga de cada um é o seu plano de vida. O Verniz é o embelezamento que adorna a tarefa bem edificada. A Madeira é a essência da Obra em realização.

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